18/10/2009

Programa Novas Oportunidades pode mudar os rankings

Resultados das escolas do interior e de zonas desfavorecidas deverão nos próximos anos aproximar-se das outras, acredita investigadora.
Natália Faria

O padrão repete-se todos os anos: as escolas privadas, frequentadas por alunos das classes altas, encabeçam os rankings nas primeiras dezenas de lugares surgem impreterivelmente estabelecimentos de cidades como Lisboa, Porto e Coimbra, e só muito raramente do interior. O padrão (que, no fundo, reflecte as desigualdades sociais e territoriais do país) repete-se todos os anos mas poderá esbater-se dentro de algum tempo, na opinião da investigadora Lucília Salgado, da Escola Superior de Educação de Coimbra. Porquê? Por causa do programa de Novas Oportunidades e da formação que está a ser dada aos professores do 1º. ciclo do ensino básico, no âmbito do Programa Nacional de Ensino do Português.
Por partes. Especialista no estudo das relações entre sucesso escolar e meio social de pertença, Lucília Salgado diz que as crianças de meios sociais desfavorecidos têm mais dificuldades na escola porque têm mais dificuldades em aprender a ler e a escrever. Não porque sejam menos inteligentes, entenda-se. “Em famílias com baixos níveis de escolaridade, as crianças não desenvolvem tão precocemente as competências de leitura e de escrita, porque frequentam mais raramente o pré-escolar – que também não trabalha muito este tipo de competências – e porque não contactam tanto com livros em idades precoces.”
Não seria tão grave se a escola fosse capaz de esbater essa diferença. “Infelizmente, as escolas não têm sabido adequar-se ao destinatário e trabalham todas as crianças da mesma forma, o que faz com que algumas arrastem essas dificuldades acrescidas na leitura e na escrita ao longo dos anos.” Há quatro anos, o cenário começou a mudar. “Cerca de 50% dos professores do primeiro ciclo do ensino básico receberam formação específica neste domínio, no âmbito do Programa Nacional do Ensino do Português. E o que se tem visto é que os miúdos cujos professores beneficiaram dessa formação tiveram notas aferidas superiores aos outros”, refere a investigadora, para quem, e porque as escolas que mais aderiram a esta formação foram precisamente as da periferia, “daqui a seis ou sete anos as escolas do interior e das zonas mais desfavorecidas deverão aproximar-se das outras em termos de resultados.
Para a quebra do actual ciclo vicioso contribuirão, também, os 750 mil adultos inscritos nos Centros Novas Oportunidades, na óptica desta investigadora que está precisamente a analisar o efeito da literacia familiar no sucesso escolar das crianças. “Foi introduzida a leitura e a escrita na família e a necessidade de formação também. Um adulto que se dispõe a ir concluir o nono ano de escolaridade é porque percebeu a importância dos estudos e vai transmitir isso aos filhos”, sustenta, asseverando que o seu optimismo se baseia nos resultados preliminares do estudo “Centros Novas Oportunidades – uma Oportunidade Dupla: da Promoção da Literacia Familiar ao Sucesso Escolar das Crianças”, financiado pela Agência Nacional para as Qualificações. “Temos ouvido coisas emocionantes, como pessoas que antes não viam televisão com os filhos, com medo que eles lhes perguntassem coisas a que não saberiam responder, e que agora dizem: ‘Já vejo [televisão com os filhos] porque já sei responder às dúvidas e, se não, pelo menos sei onde posso procurar’.”

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